CONHECER-SE PARA SE CONSTRUIR

Conhecer-se é uma arte para toda a vida e quando temos a “sorte” ou “graça” de termos quem nos ajude nesta tarefa diária, aquilo que poderia parecer quase impossível deixa de ser um peso e passa a ser um impulso. Crescer e ajudar a crescer. Ninguém dá o que não tem, por isso o autoconhecimento é tão importante.

No texto impecável de Ari Esteves vi com clareza como as tutorias realizadas na Escola AeD, onde tenho a alegria de trabalhar, estão no caminho certo: o cuidado com o preparo, a delicadeza sincera com as palavras, a verdade como tônica e os propósitos combinados com os pais para o crescimento integral de cada criança como pessoa única e irrepetível. Meu coração vibrou de alegria.

Espero que aproveitem como eu, cada palavra, cada ponto, cada reflexão. A construção de si mesmo levada a sério pode ajudar a todos que convivem conosco. (Sonia Rosalia)

Ariovaldo Esteves Roggerio
Ari Esteves

1 – Não nascemos prontos

         “A cada homem se lhe confia a tarefa de ser artífice da própria vida; em certo sentido, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra mestra” (João Paulo II, Carta aos Artistas). Ninguém nasce pronto, mas como obra inacabada. Primeiramente cada um é ajudado pelos pais para se desenvolver como pessoa; depois, quando adulto, faz suas escolhas pelo livre arbítrio para alcançar o melhor de si, sendo que essa tarefa há de durar a vida inteira, já que ninguém em sã consciência pode achar-se plenamente formado, pois sempre podemos aprender e melhorar mais.

         Na trajetória para o aperfeiçoamento pessoal quem não melhora retrocede, sendo preciso ser inconformista e não aceitar conviver com o erro dentro da própria alma, tal como não se deseja conviver com vírus ou bactérias no corpo: ao invés de dizer “é que sou assim”, dizer “eu me fiz assim, mas quero melhorar”.

         O conhecimento próprio é fundamental para a reforma pessoal. Para isso, como bons comerciantes que no final do dia fazem um balanço para ver os ganhos e as perdas, é preciso fazer um exame diário de três minutos no final do dia, a fim de verificar os pontos positivos e negativos do caráter e do temperamento, para fomentar uns e corrigir outros. O espírito de exame corresponde a uma necessidade de amor, de sensibilidade. Se por preguiça descuida-se desse exame, não se pode evitar que no terreno da alma e dos afetos cresçam abrolhos e espinhos.

2 – Ser artífice da própria vida

Conhecer a si mesmo. A arte mais difícil.

         Por vezes queremos mudar o mundo, mas em primeiro lugar devemos melhorar a nós próprios. Se não há luta contra os defeitos eles tendem a crescer com o passar do tempo. Há quem não vai ao médico porque teme que lhe seja diagnosticada alguma doença, e prefere viver “feliz” e consciente de sua própria ignorância, e com isso deixa de dar o grande passo para a cura, que é pôr os remédios apropriados. Ser artífice da própria vida começa por não ter medo de se examinar para descobrir aspectos a corrigir, a fim de não andar às cegas e cair num buraco. Quem descobre aspectos a melhorar deve se sentir feliz porque não lutará às cegas ou dará socos no ar, mas poderá travar uma luta alegre e esportista, tal como o atleta que busca melhorar cada dia mais a sua performance, começando e recomeçando seus exercícios (sua luta) uma dia e outro.         

3 – Buscar os aspectos a polir

         Para fazer da nossa vida uma obra de arte temos que reconhecer que é universal a experiência da fraqueza humana, e que também somos vítimas dela, pois os bens nos atraem e podemos usufruí-los de modo intemperado, sejam eles bens do instinto (comida, bebida, conforto…), ou de inclinação psicológica (trabalho profissional que faz distanciar da família, curiosidades frívolas nas redes sociais, etc..).

         Já se afirmou que o orgulho morre duas horas depois da pessoa. Como filhos de Eva, a primeira vítima da lisonja, também detectamos em nós sintomas de orgulho, vaidade, egoísmos, preguiças…. Outras vezes percebemos defeitos de temperamento, como a indiferença pelas pessoas, ironias, antipatias, suscetibilidades, pouco agradecidos, não saber ouvir, dar demasiada relevância à opinião própria e não entender as razões dos demais, emburramentos, teimosias, espírito crítico, reações destemperadas, não cumprir o prometido, juízos temerários que etiquetam erradamente as pessoas, deixar as coisas para a última hora…

         Eita, a lista acima parece que não deixa de crescer! Não se trata de corrigir tudo de uma vez, mas começar pelo aspecto mais relevante a ser corrigido. Pelo princípio da unidade da pessoa humana, quando melhoramos em um ponto, melhoramos em muitos outros ao mesmo tempo. O importante é começar, como foi dito, por meio de uma luta alegre e esportista.

4 – Acender uma luz dentro de si

         Quem procura conhecer-se não fará o papel daqueles que Cristo disse que “amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más e não queriam que fossem vistas”, claro, nem por si mesmos! O humilde é consciente das próprias debilidades e pede ajuda a Deus, que vem ligeiro ao seu auxílio, tal como um bom pai que estende o braço para ajudar a sua criança.

         Uma sugestão de leitura é o pequeno livro de bolso “Conhecer-se”, de Joaquim Malvar Fonseca, publicado pela Editora Quadrante, em São Paulo, que faz a seguinte apresentação da obra: “Quem sou eu? Esta pergunta não é banal. Está latente, sob múltiplas formas, mais ou menos complicadas, nas indagações dos filósofos, nas consultas psiquiátricas, na agitação dos jovens e na própria insegurança das instituições sociais. «Conhecer-Te para conhecer-me», responde Santo Agostinho. O destino do homem ultrapassa o homem, e só nos conhecemos verdadeiramente quando nos conhecemos à luz de Deus. Este conhecimento próprio à luz de Deus é, aliás, o único conhecimento eficaz, porque traz consigo a terapia, quebrando os círculos viciosos do eu e abrindo a porta às mudanças”.

5 – Iniciar com propósitos simples

         Começa a reconstruir-se quem no final de cada dia faz para si a seguinte pergunta: ― Que fiz mal?, que fiz bem?, que poderia ter feito melhor? Em seguida, estabelecer um ou dois propósitos pequenos e concretos para corrigir as falhas detectadas no dia: levantar-se no horário para chegar e sair pontualmente do trabalho; chegar cedo em casa e ajudar a esposa, ouvir a criança com atenção e ajudar nas tarefas domésticas; sorrir quando não se tem vontade para evitar uma cara mal-humorada… Com isso, enxota-se as pequenas ou grandes faltas que afastam de Deus e dos demais.

         A luta contra os defeitos do temperamento é permanente e necessária para sermos aquilo que diz Caminho n.4: “Ser homens de caráter e personalidade: eis a rocha sobre a qual construímos a verdadeira santidade. As virtudes sobrenaturais infusas apoiam‑se na forte estrutura de virtudes humanas que formam o caráter”.

Fonte: Texto produzido por Ari Esteves para o site www.ariesteves.com.br

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