O ENIGMA DO COLAR DE MARIA ANTONIETA

Tom Pavesi Guia Conferencista - Segredos de Paris
Tom Pavesi
Jeanne de la Motte, Noblewoman and Con Artist - HeadStuff
Jeanne La Motte-Valois

A protagonista principal deste enigma, que na verdade tratou-se de um golpe contra a rainha Maria Antonieta e os joalheiros, Böhemer e Bassanges chama-se, Jeanne de Valois-Saint-Rémy. Depois conhecida como Jeanne La Motte-Valois. (…) 1.

Morte na História: MORTE DE LUÍS XV DA FRANÇA
Luís XV

A história começa em 1772, quando rei Luís XV, querendo presentear sua última amante , Madame du Barry, contrata os melhores joalheiros da França, Böhemer e Bassanges, para desenharem um colar excepcional, único, feito com os melhores diamantes do mercado. Mas Luís XV morre em 1774 sem ver e sem pagar o maravilhoso colar de 540 diamantes.

Madame du Barry | Palace of Versailles
Madame du Barry

Complicou tudo, não é mesmo? Böhmer e Bassange endividados tentam a todo custo vender o colar para o novo rei Luís XVI, a um preço extraordinário para época, 1.600.000 Libras (atualmente quase 7.000.000 euros). Maria Antonieta sabendo da intenção do seu marido em querer agradá-la recusou o presente, primeiramente devido ao alto custo (daria para comprar 3 navios de guerra, para se ter uma ideia), o país estava afundado numa crise econômica e conflitos políticos que poderiam prejudicar a imagem do novo rei e principalmente nunca usaria um colar que havia sido criado para uma amante, (…) e sua inimiga confessa, Madame du Barry.

O caso do colar de diamantes
Réplica do colar de diamantes
Cardinal De Rohan in 2019 | Marie antoinette, French revolution ...
Louis de Rohan

Em 1783, a condessa La Motte-Valois (…) conheceu o cardeal Louis de Rohan, e visto sua grande fortuna, tornou-se logo sua amante e confidente, conseguindo convencê-lo de que tinha uma relação íntima e amorosa com a rainha Maria Antonieta e poderia ajudá-lo a se reconciliar com ela (devido a antigo incidente que envolvia a mãe da rainha). Maria Antonieta passou a odiá-lo.  Tanto assim que tão logo se tornou rainha, proibiu Du Barry e Louis de Rohan, de frequentarem Versalhes enquanto fosse viva.

Caso do colar de diamantes – Wikipédia, a enciclopédia livre
Maria Antonieta

Enquanto isso a condessa de La Motte tramava um grande golpe. Com a ajuda de outro amante, também seu secretário oficial, Réteaux de Villette, brilhante falsário, escreveu várias cartas ao ingênuo, cardeal Rohan, (assinando como se fosse a própria rainha Maria Antonieta) dizendo que aceitava a reconciliação mas, que em troca desta nova aliança e como prova de fidelidade e amizade precisava que ele a ajudasse emprestando uma certa soma de dinheiro para algumas obras de caridade pois não conseguia mais financiá-los devido à crise financeira que a França se encontrava. O cardeal, que apesar do entrevero era encantado por Maria Antonieta, viu aí uma grande oportunidade de retornar logo a Versalhes. Rapidamente fornece a soma requerida a La Motte-Valois como agradecimento e confiança dispensada pela rainha.

A condessa vendo a facilidade que foi retirar dinheiro deste homem, continua a farsa por mais alguns meses até que o cardeal exige um encontro em Versalhes com a rainha. Queria verificar pessoalmente se realmente estava perdoado, como Maria Antonieta dizia nas cartas.

La Motte decidiu continuar e ampliar o plano. Entram em cena novos personagens: o conde de Cagliostro, charlatão italiano que se passava por mago, amigo pessoal e confidente do cardeal de Rohan, e o próprio marido da condessa, Nicolas la Motte, todos cúmplices e associados para extorquir mais dinheiro do cardeal. O que fizeram? Contrataram uma prostituta muito parecida com Maria Antonieta, chamada Nicole Leguay d’Oliva, que em troca de uma boa soma em dinheiro aceitou se passar pela rainha nos jardins de Versalhes. Objetivo? Enganar um pretendente que estava disposto a fazer lindas declamações de amor. Nicole não sabia nada sobre o plano contra o cardeal.

Tudo bem organizado, o encontro foi marcado para a noite de 11 de agosto de 1784. O cardeal comparece nervoso e feliz, e não se deu conta que ali estava  uma impostora  se apresentando como se fosse a rainha. O cardeal Rohan,  após ter trocado pouquíssimas palavras e ter recebido uma rosa, teve o encontro logo encerrado pela condessa de La Motte. Qual foi a desculpa? O encontro teria que ser encerrado devido a perigosa aproximação das cunhadas de Maria Antonieta…

O cardeal Rohan volta à Alsácia certo que havia se encontrado com a rainha e que estava finalmente perdoado. Generoso  recompensou a condessa que pôde comprar assim uma bela mansão em Bar-sur-Aube, em Champagne-Ardennes.

O golpe do colar de diamantes na rainha Maria Antonieta - Segredos ...
Bassanges e Bohemer

Com o cardeal em suas mãos , a condessa La Motte-Valois começou então os preparativos para aplicar o maior golpe da história do século XVIII, o roubo do colar de diamantes dos joalheiros Böhemer e Bassanges já convencidos pela própria condessa la Motte-Valois, que a rainha Maria Antonieta estava disposta em adquirir o colar secretamente, sem chamar atenção do país que passava por dificuldades econômicas. Foi combinado o pagamento em quatro parcelas de 400.000 libras (ou 1.750.000,00 euros), durante dois anos, com contrato de reconhecimento da dívida assinada pelo cardeal Louis de Rohan, garantia de honestidade, lealdade e respeito do compromisso em nome da rainha.

Em novo encontro a manipuladora condessa entrega ao cardeal uma pretensa carta da rainha com a assinatura: “Marie- Antoniete de France”, (Réteaux de Villette, o falsário, errou pois a rainha nunca assinava “de France”, depois do nome ), implorando para que ele, cardeal, representasse a rainha na compra do famoso colar. Ele deveria assinar as promissórias e dar todas as garantias aos joalheiros que a dívida seria paga. Devido à alta soma envolvida, o cardeal pede ao seu amigo, mago, médium, Cagliostro, de organizar uma mesa espírita para decidir o que fazer. Uma criança espírita diz ao cardeal que se ele aceitasse o pedido da rainha muito breve seria promovido a 1° ministro do rei Luis XVI. Era o que precisava escutar para assinar o contrato.

Em 01 de fevereiro de 1785, os joalheiros Böhemer e Bassanges confiantes entregam o colar ao feliz cardeal Louis de Rohan que o entrega à falsa condessa La Motte-Valois que por sua vez  o entrega ao falsário Rétaux de Villette, disfarçado, no momento, como “Valet de Chambre” de Maria Antonieta, (criado pessoal da rainha).

No dia seguinte o colar é todo desmontado, os diamantes divididos entre o três cúmplices, Rétaux, o mago do cardeal Cagliostro, e o marido tenente oficial Nicolas La Motte. Na pressa, e devido à preciosidade de cada diamante que poderia provocar desconfiança aos futuros compradores, cada um vende sua parte abaixo do preço real do mercado para joalheiros de Londres e Bruxelas.

Seis meses depois, o cardeal Rohan sem notícias da sua doce rainha Maria Antonieta preocupado com a aproximação da data de pagamento da 1° parcela marcada para 01 de agosto de 1785 recebe a condessa Motte-Valois. Esta explica, na maior tranquilidade que a rainha se desculpava mas dificilmente conseguiria a soma de 400.000 libras, e que ele, como representante legal deveria assumir o pagamento desta parcela até que a rainha pudesse reembolsá-lo.

E os joalheiros?

Os joalheiros foram advertidos pela condessa da dificuldade que se encontrava Maria Antonieta em a fazer o 1° pagamento através do seu representante cardeal de Rohan. Também não tinham notícia que a rainha tivesse usado o colar em alguma ocasião. Entraram em contato com a cortesã pessoal de Maria Antonieta, Madame Campam, perguntando se a rainha tinha algum problema com o pagamento e o porquê ela ainda não havia usado o colar. Surpresa com a questão, responde que não tinha conhecimento do assunto mas que informaria a rainha imediatamente.

Ao saber desta história e ofendida pela audácia do cardeal Rohan em usar seu nome, pede uma investigação urgente para o barão Breteuil, Ministro do rei Luís XVI, inimigo declarado do cardeal. Rapidamente todo o golpe é desvendado.

MASP
Luís XVI

Em 15 de agosto de 1785, o cardeal Rohan pronto para celebrar a missa de Assunção na capela real de Versalhes é convocado pelo rei Luís XVI para se explicar. Depois de insistir que foi enganado pela condessa Motte-Valois e seus cúmplices jura inocência pedindo perdão e clemência. O rei sem hesitar ordena a prisão do cardeal em plena galeria dos espelhos onde é enviado a Bastilha a espera de um julgamento. Neste momento o maior golpe do século XVIII tornou-se público.

Nicolas de La Motte | Marie Antoinette's Diamonds
Nicolas de La Motte

Em seguida são presos, a condessa La Motte-Valois, o falsário Rétaux de Villette, Nicole Leguay d’Oliva, a sósia de Maria Antonieta e o mago Cagliostro. O marido da condessa, Nicolas de La Motte,  conseguiu fugir para Londres.

Rétaux de Villette - Wikipedia
Rétaux de Villette

Em 1786, Luís XVI ao invés de optar para um julgamento pessoal sem escândalos, aceitando a pressão irada da rainha, preferiu um processo público pelo Parlamento de Paris esperando uma condenação exemplar para todos os acusados e assim limpar a imagem de Maria Antonieta acusada pela aristocracia de saber e ter participado na compra deste colar.

Qual foi o resultado do processo?

– Cardeal de Roham foi absolvido mas obrigado a vender várias de suas propriedades para reembolsar os pobres joalheiros, (os herdeiros descendentes do cardeal continuaram a reembolsar os herdeiros dos joalheiros até o final do século XIX).


– Rétaux de Villette é julgado culpado por falsificação, condenado ao exílio, morre na Itália.

Magia Qabalística: Conde Cagliostro.
Alessandro Cagliostro

– Cagliostro é expulso da França, condenado pela inquisição italiana, morre na prisão em 1795.

– Nicolas de la Motte, condenado a prisão, não cumpre a pena por estar foragido. Protegido pela polícia volta para Paris em 1789.


– Nicole Leguay d’Oliva é absolvida. Morre aos 28 anos.

– Condessa La Motte-Valois é condenada a prisão perpétua, torturada e marcada com ferro quente com a letra V de “Voleuse”, (Ladra) – veja ilustração abaixo. Conseguiu fugir rapidamente para Londres subornando o chefe da guarda da prisão, suicidou-se ou foi assassinada em 1791.

Longe de limpar a honra de Maria Antonieta o processo público ao contrário do que se pretendia fortaleceu a imagem de uma rainha culpada. Os tabloides revolucionários encontraram material para sugerir toda forma de imoralidade.Um líder revolucionário ficou exultante e exclamou: “Quanta lama no cetro e no báculo”

Julgamento e morte de Maria Antonieta, a última rainha da França ...
Julgamento de Maria Antonieta

Pouco tempo depois o escândalo contribuiu para a queda da monarquia com o início da Revolução Francesa. Em 1791 o rei foi guilhotinado. Soube enfrentar a morte. Pouco tempo depois foi a vez de Maria Antonieta. No processo chegaram a acusá-la de haver iniciado sexualmente o próprio filho. Indignada, a rainha exclamou: “Apelo a todas as mulheres de França para que digam se acreditam em tanta baixeza”! As mulheres revolucionárias a aplaudiram… A sessão foi encerrada.

Tal como seu marido, morreu na guilhotina. Com dignidade.

Um historiador comentou: “Se ela não soube viver, ao menos soube morrer”

Notas:

  1. O texto original, ver link, foi levemente alterado e diminuído pelo Olivereduc.
  1. Fonte: https://parissempreparis.com/o-enigma-colar-de-maria-antonieta/

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