GOVERNO BOLSONARO E ERROS POLÍTICOS

 Valter de Oliveira

 

 

Cem dias de governo Bolsonaro. Bons ou maus? Para os adversários do governo nada de bom foi feito. Só fizeram coisa ruim. “Não há projeto!”. “Não há políticas públicas”. “O MEC é um caos! E mil outras afirmações pomposas. Dizem-se democratas, antifascistas, e desejam, com suas mentes utópicas, que nesse breve tempo o Executivo tivesse apresentado e resolvido os grandes problemas nacionais. Esqueceram que estamos em uma democracia? Que as principais reformas irão depender do Legislativo? Ou pensam que Bolsonaro pode governar baseado em decretos-lei?

Por outro lado o Presidente reconhece alguns problemas mas, no geral, disse ele, “estamos com céu de brigadeiro”. Três meses. Pouco tempo para mudanças substanciais. Tempo suficiente para apresentar e tomar algumas iniciativas importantes e outras que causaram certo mal estar e problemas e incomodaram até certos eleitores do Presidente. Foram atitudes que provocaram polêmicas. Questões que foram potencializadas pelos adversários de sempre.

E as reações?

Os setores de esquerda, naturalmente, alegram-se com os desencontros, com as falhas, com tudo o que possa enfraquecer o governo. Continuam sabendo navegar muito bem no mar da desinformação, da parcialidade e até da má fé. Sempre hábeis pautam as discussões midiáticas enfatizando o que lhes interessa.

Já a imensa maioria do eleitorado de Bolsonaro, conforme o insuspeito Data Folha, considera o governo ótimo ou regular (1). Uma parcela acabou mostrando-se reticente e até decepcionada com os erros. Nada mais natural. Explico-me.

O eleitorado de Bolsonaro

No início da campanha de 2018 poucos acreditavam que o “capitão” tivesse chances de ser eleito Presidente. Foi difícil obter um partido e até mesmo um vice. O azarão ganhou com um discurso liberal conservador. Para desespero da esquerda light e da vermelha.

Acontece que os eleitores que o  elegeram não fazem parte de um bloco decididamente ideológico. Fartos da ”velha política”, da corrupção, do ambiente asfixiante causado pelo petismo, procuraram alguma luz nas promessas  e propostas de Bolsonaro.  Votaram na mudança eleitores liberais e conservadores,  católicos e evangélicos; empresários e trabalhadores; ricos e pobres; homens e mulheres. Entre estes, é evidente, homens e mulheres que, há poucos anos, iludidos, votaram em Lula e Dilma.

Esse eleitorado heterogêneo – que quer mudança real – conseguiu duas proezas: Primeira: derrotar o petismo optando por uma bandeira liberal-conservadora. Segunda: eleger boa parte dos representantes do Legislativo mais abertos à mudança e mais próximos dos ideais propostos por Bolsonaro. Isso apesar de todas as vantagens oferecidas à velha oligarquia política pelo sistema político-eleitoral criado por ela. Não foi fácil para grande parte enfrentar a mídia engajada e o politicamente correto. Merece nossos parabéns.

A composição do governo 

Se os eleitores têm pontos em comum têm também suas diferenças. Não há como imaginar um governo eleito feito de uma peça só (2). Este é composto por grupos que, no decorrer da campanha, resolveram apostar na mudança. Hoje, para simplificar, se fala em setor militar e setor liberal bem como um grupo de Olavetes. E ainda há os evangélicos. Supondo que todos sejam grandes patriotas, preocupados com o bem comum,  é claro que isso cria dificuldades na hora de se traçar objetivos e implementar uma verdadeira política nacional. Se acreditarmos que nós, seres humanos, temos alguns vícios bem feios a situação complica um pouco mais.

Deste modo é mais do que natural vermos certas escaramuças, desencontros, e falhas na atuação governamental. Confirma o que era ensinado na Escola Superior de Guerra:  todo governo tem óbices (obstáculos) a enfrentar. Internos e externos.

O eleitor que votou em Bolsonaro, que não tem uma noção clara do jogo político, que muitas vezes não sabe ver a malícia de certas informações, ou a ênfase nos erros secundários, acabou por dar aos erros do governo um peso maior do que teve. Salvo melhor juízo, é o que me parece.

Erros e acertos

Entre erros e acertos, no atacado, o governo Bolsonaro apresenta vários pontos positivos. Apresentação de uma corajosa, profunda e, em geral, justa reforma da Previdência, Projeto anticorrupção de Moro, leilões portuários bem sucedidos são alguns exemplos. O Globo apresenta bem mais (3). No varejo, teve falhas reais, que devem ser deploradas, mas que não devem fazer que o eleitor de Bolsonaro se angustie.  Não tem sentido perder a paz discutindo a cor de roupa de crianças, se elas vão cantar o hino nacional, se o vice-presidente não parece ser muito conservador, se o novo ministro da Educação não é da área porque é economista (4), etc, etc. Sabíamos que a mudança não era tarefa fácil. As grandes lutas para mudar o país estão começando.

Desde já é dever dos que lutaram por mudanças incentivar o governo para que torne efetivas as promessas de campanha. Não esquecer que erros serão cometidos. Aí é preciso cobrar nossos representantes. Eticamente, fortemente, com razoabilidade. Não é razoável, nem justo, nem inteligente exigir que o governo seja um reflexo de nossas ideias. Ele será eficaz e inteligente se souber aproveitar o que há de bom em cada grupo que o apoia.

Notas:

 1.  Na parcela de brasileiros que declaram ter votado no militar reformado no 2º turno da eleição presidencial de 2018, a maioria (54%) aprova seu governo até o momento, e para 33% ele é regular´  . http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2019/04/1987680-governo-bolsonaro-e-aprovado-por-32.shtml

 2.    O PT é um partido, tido como muito centrado, muito homogêneo. Poucos sabem que em seu seio encontramos mais de uma dezena de facções. Para governar aliou-se a Deus e ao diabo. Teve apoio da extrema esquerda ao PP de Maluf. E dos evangélicos. Antes santos, agora pecadores…

 3.    Balanço do G1 aponta: governo cumpriu integralmente 18 e parcialmente 17 das 35 metas para os primeiros 100 dias; entenda:

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/11/balanco-do-g1-aponta-governo-cumpriu-integralmente-18-e-parcialmente-17-das-35-metas-para-os-primeiros-100-dias-entenda.ghtml

4.    O novo ministro já antes de assumir começou a ser metralhado pela mídia. O pessoal da Globo caiu de pau criticando sua formação: “é economista”. “Não é da área!”. Só uma perguntinha: -Qual é mesmo a área de formação do Sr.Haddad?

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