A “ESQUERDOPATIA” OU “SINISTROPATIA”

Ubiratan J. Iorio

[Este artigo é uma reunião de três com o mesmo título, que publiquei no extinto Jornal do Brasil em 19/9, 26/9 e 3/10 de 2005, com pequenas alterações para atualizá-los. Os três artigos originais estão em meu livro de 2011,Ensaios contra o vento].

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Um esquerdopata, antes de mais nada, é um chato!

esquerdopatia ou sinistropatia é uma das mais perigosas e contagiosas manifestações endêmicas da América Latina, com a honrosa exceção do Chile. Responsável pelo nosso enorme atraso comparativamente às sociedades desenvolvidas. Fruto do cruzamento incestuoso da mentalidade excessivamente centralizadora e patrimonialista herdada da tradição ibérica com a estratégia de ocupação dos espaços de Antonio Gramsci e do encontro adulterino  de um tremendo complexo de inferioridade com uma dose desavergonhada do vício da inveja, a doença contaminou as universidades, os meios de comunicação, a cultura, a economia, a política, a linguagem e as próprias definições de moral e ética. Seus principais agentes propagadores são os chamados “intelectuais” de esquerda, para os quais a consecução de seus objetivos de se criar o “Outro Mundo Possível” justifica quaisquer meios utilizados para tal, entre os quais a mentira, o diversionismo, a tática de acusar os inimigos de práticas em que eles próprios são mestres e, como agora os brasileiros parecem perceber, a corrupção. Não foi sem razão que Paul Johnson debuxou e debochou de duas marcas dos intelectuais de esquerda: o egocentrismo e a falta de respeito para com a verdade dos fatos, sempre em nome do “social”…

Um esquerdopata típico pode ser facilmente identificado a partir de alguns comportamentos peculiares, de natureza gestual e visual e, principalmente, pela forma simplista, embora arrogante, de ver o mundo e de se expressar.

Vamos começar enfatizando a mais importante manifestação da endemia – e sua causa maior – que é a pia crença na hipótese de que a riqueza de João é condição necessária e suficiente para explicar a pobreza de Pedro, João e Pedro podendo ser indivíduos, “classes”, sexos, raças, estados, regiões ou países. Uma visão míope, herdada das ideias de exploração de Marx, que não leva em conta o fato óbvio de que esta seria apenas uma dentre inúmeras outras explicações para a existência de desigualdades, como o acesso ou não à educação e à saúde, a disposição ou indisposição para o trabalho, a inteligência ou a estultice, as boas ou más instituições e até mesmo a sorte ou o azar na vida,… É evidente que quem possui um caráter reto, mas é pouco observador dos fatos e da própria História, e acredita cegamente que Fulano é pobre porque é explorado por Beltrano, que é rico, será tentado a aceitar a tese de que, para acabar com as desigualdades, será preciso o estado (logo quem…) tirar de Beltrano para dar de mãos beijadas a Fulano; será também um defensor de políticas públicas perpetuadoras da miséria, como os diversos programas populistas existentes em nosso país; terá ódio – nutrido pela inveja – de toda e qualquer pessoa, “classe”, estado, região ou país bem sucedidos, que enxerga como exploradores e inimigos da fraternidade; e, se tiver uma veia religiosa, será facilmente iludido pelas falácias da Teologia da Libertação, que é absolutamente alheia à doutrina reta da Igreja, já que seu leif motiv é socialista – e, portanto, anticristão – e porque, sob o escabeche de uma pretensa caridade (compulsória!), dissemina lutas fratricidas, incutindo nas cabeças dos fiéis que não conhecem a mensagem cristã que padres e bispos, ao invés de conduzirem suas ovelhas para o céu, devem levá-las para a terra, mesmo que esta seja de propriedade de terceiros…

Um sinistropata, ao mencionar a importância da educação, a imagina sempre controlada pelo estado e sob o tacão do pensamento único e omite maldosamente a evidência de que, sem boas instituições, sem pluralismo de ideias e sem incentivos à livre iniciativa individual, a educação não garante o desenvolvimento econômico, como está aí a demonstrar a sua Disneylandia, aquela ilha subjugada pelo ditador barbudo, o grande Carniceiro do Caribe e, nos últimos anos, por seu irmão sem barbas.

Vamos agora apresentar alguns dos mais batidos chavões usados pelos sinistropatas e seus respectivos contra-argumentos.

O primeiro, já apontado antes, é o de que a pobreza do Brasil, da América Latina e de outras regiões deve-se à sua “exploração” por parte das nações ricas. Contra-argumentos: Definitivamente, o que explica a pobreza de Fulano não é a riqueza de Beltrano, sejam eles pessoas, países ou regiões, pois as causas da riqueza são as recíprocas das da pobreza. O desenvolvimento econômico é como uma peça de teatro: para ser boa, exige um razoável “script”, um cenário adequado e excelentes atores. O “script” é a ampliação contínua da capacidade de produção, isto é, a acumulação de capital, a economia de mercado e os direitos de propriedade; o cenário são as instituições e os atores a população. Para se gerar riqueza de maneira a não concentrá-la, são necessários investimentos em capital humano e regras estáveis e que incentivem as pessoas a darem vazão à sua criatividade.

O segundo chavão é o de que O Brasil precisaria promover uma “reforma agrária” para redistribuir a renda e fixar o homem no campo. Contra-argumentos: reforma agrária não é e nunca foi instrumento de redistribuição de renda; a questão não está no tamanho das propriedades, mas em sua produtividade; o percentual da população que vive no campo nas sociedades adiantadas e de agriculturas mais produtivas é inferior, em média, a 3%. Nos Estados Unidos, é de 1,5%.

A terceira falácia é a de que o país precisa de uma reforma tributária com impostos mais progressivos, para redistribuir a riqueza. Ora, o Brasil precisa, sim, de uma reforma tributária, mas que desonere cidadãos e empresas! Temos cerca de 80 tributos, muitos em “cascata”. A carga tributária subiu escandalosamente nos últimos anos e hoje beira os 40% do PIB. Ademais, a função dos impostos não é a de redistribuir a riqueza, mesmo porque não se pode redistribuir algo que não é fixo, pois a economia não é um jogo de soma zero. A função dos tributos é a de, simplesmente, manter o estado funcionando (para quem acredita ser o estado necessário, o que não é o meu caso). Todos os países que tentaram redistribuir a riqueza com impostos altamente progressivos, conseguiram apenas desestimular o trabalho e o esforço individuais e estimular o comodismo, provocando apatia, evasão fiscal e fuga de capitais e nivelando todos – inteligentes e estultos; diligentes e preguiçosos; felizardos e azarados – por baixo. Além disso, não podemos nos esquecer da máxima do Presidente Ronald Reagan, a de que o imposto gera a sua própria despesa: quanto maior a arrecadação, maior também o apetite gastador dos governos. E o estado moderno, no mundo inteiro, é o maior exemplo de glutoneria, de gula e de voracidade que podemos encontrar.

esq2A quarta falácia é a de que o país precisa voltar a “crescer”, mesmo que abrindo mão do controle da inflação, pois existiria um dilema entre a inflação e o crescimento. Não é, Dona Dilma? Contra-argumento: poucas tolices são tão repetidas como esta! Na verdade, não há escolha entre inflação e desemprego, pela mesma razão que não se pode escolher entre comer demais e ter indigestão: se comermos muito, a indigestão é certa. Nenhuma economia cresce o que deseja crescer, mas sim aquilo que pode e que é determinado não pelos nossos desejos nem pelas máquinas da Casa da Moeda, mas por nossas capacidades e pelos mecanismos de livre mercado. A inflação é provocada por investimentos mal feitos, lastreados em créditos artificialmente baratos e, na medida em que o caráter ineficiente desses investimentos é revelado pelo tempo, surge o desemprego. Ou seja, a inflação ocorre quando os governos, achando que estão optando pelo “crescimento”, geram empregos artificiais e o desemprego é a consequência inevitável dessas más políticas. “Desenvolvimentista” todo mundo é, mas primeiro temos que saber ao certo o que é desenvolvimento e, portanto, que ele não pode ocorrer na presença de inflação. Mas ossinistropatas latino-americanos, que tanto usam a História – desde que de acordo com as suas conveniências -, simulam não terem aprendido isso.

Eis mais três cacoetes esquerdopatas, para encerrar. O primeiro é o de acreditar cegamente que as “soluções políticas” são socialmente melhores do que as proporcionadas pelo sistema econômico e pelo sistema moral, o que os leva, por exemplo, à defesa de “políticas públicas”, como a industrial, para fortalecer setores previamente selecionados, tornando-os competitivos. Esse argumento equivale a tentar remendar uma colcha nova com um retalho velho, o que estraga toda a peça. O século XX foi farto em demonstrar a ineficácia das soluções políticas e, no caso das políticas industriais planejadas, nem sequer a colcha é nova, tratando-se apenas de uma tentativa dissimulada de defender o tecido roto pelos velhos argumentos protecionistas, sem qualquer espaço no mundo de hoje. Se os Estados Unidos e a Europa adotam práticas protecionistas, pior para eles, no longo prazo, pois vão perder. Se meu vizinho resolver drogar-se porque acha isso bom, eu vou imitá-lo, só porque ele é rico? As “políticas industriais”, na verdade, são frutos podres do processo político, em que burocratas travestidos de técnicos selecionam alguns setores para ganhar e, portanto, outros para perder. O grande derrotado – mais até do que os produtores não contemplados com as benesses -, é o consumidor, que fica com menos produtos à sua disposição, de pior qualidade e mais caros. Não é, Dona Dilma?

esq3Outra característica da sinistropatia é a de ser uma seita de adoradores do estado, diante do qual se ajoelham e gritam hosanas servilmente, como se estivessem diante de uma vaca sagrada. Por isso mesmo é que o governo petista criou dezenas de novas estatais, mais de uma por mês, desde que assomou ao poder. E por isso conta hoje com 39 ministérios. Privatizar empresas sugadoras dos contribuintes, no seu jargão infantil, equivaleria a “entregar o patrimônio público”… Público ou dos que detêm o poder político? Os Correios, a Eletrobrás, o IRB, a Petrobrás, a Caixa, o BNDES, o Banco do Brasil e dezenas de outros cartórios pertencem de fato ao público ou, mesmo, aos seus funcionários de carreira? É evidente que não, porque são controlados pelos governos, que indicam presidentes e diretores para eles, todos representantes do partido oficial e dos seus aliados. É mais do que tempo de o estado desfazer-se dessas empresas, deixando que o setor privado cuide da economia, simplesmente porque sai mais barato, tolhe a corrupção e é bem mais eficiente.

Por fim, para compor o ethos esquerdopata, há a semeadura do ódio de classes, porque, já que entendem que Pedro é rico se e somente se João é pobre, então é preciso semear no coração do segundo o ódio pelo primeiro, deixando o restante aos poderes ocultos e às forças obscuras da dialética. Não é à toa que “as esquerdas” – como gostam de autodenominar-se -, jogam, muitas vezes subliminarmente e outras nem tanto, “excluídos” contra “elites”, mulheres contra homens, negros e índios contra europeus e homossexuais contra heterossexuais, sempre sob o pretexto de defender “minorias”. Tudo em nome de uma fraternidade de fachada. E olham com uma complacência que beira a simpatia atos terroristas hediondos, quando são cometidos contra países ricos, como os Estados Unidos, a Espanha e a Inglaterra. Dão asilo político a um assassino como Cesare Battisti e colocam à força no avião de volta para a sua Disneylandia socialista atletas cubanos que tiveram duas infelicidades: a de nascer em Cuba e a de pedir asilo ao governo do PT. Duas artistas de idade avançada beijam-se na boca em protesto contra um pastor que preside a comissão que estudará a união de gays e lésbicas, mas calam-se diante de mensaleiros condenados por corrupção e que presidem outras comissões no Parlamento. Não passam de sepulcros caiados, limpos por fora, mas podres por dentro.

Já seria mais do que tempo de erradicar a esquerdopatia da América Latina, mas se vocês olharem para o Brasil e para nossos vizinhos poderão ser abatidos pelo desânimo. Se olharem para os Estados Unidos e a Europa, também, com a diferença de que aqui os esquerdopatas são mais rudes, rupestres, primevos.

O mundo parece ter enlouquecido e não sei onde isto vai dar…

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