MARXISMO E VIOLÊNCIA II

Valter de Oliveira

 

No artigo anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia marxista sempre foi defensora da violência. Dissemos também que certos marxistas de hoje afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido possível um regime comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais tempo ou se Trotsky não tivesse sido afastado e depois morto por ordem de Stalin. Afirmamos que tal postura é mera falácia. Lenin e Trotsky também foram brutais em suas idéias e ações.

Lembremos inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria messiânica”:

            “Nenhuma classe na história logrou estabelecer seu domínio a menos  que tenha produzido políticos capazes de organizar  o movimento e    conduzi-lo (…). É necessário preparar homens que dediquem à revolução não apenas algumas tardes livres, mas suas vidas  inteiras”. (2) (op.cit, p. 120).

Nessa lógica, mostra ainda Pipes, “de acordo com a premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de assumir a liderança da causa. Isso será feito pelo partido comunista. Partido que, “antes e depois da tomada do poder, agia em nome dos trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)

Com a vitória da Revolução em outubro de 1917 a chamada democracia soviética vai desaparecer dentro do chamado movimento revolucionário vitorioso, que englobava várias correntes da esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de novembro de 1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição não passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit. 169). Foi aí que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois líderes o Conselho outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”. (op. cit. p. 170).

Com o tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror não significava somente execuções sumárias, mas uma atmosfera permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos os direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum restava a impotência”. (op. cit. p. 237).

Stalin: “Muitos morreram, não por seus crimes, mas porque era necessário”

Quando Lenin apresentou o decreto  “a pátria socialista em perigo” – que estabelecia o terror para combater os delitos considerados “ação contra-revolucionária”, foi procurado pelo camarada Isaac Steinberg:

“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se  com minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então, gritei exasperado: Por que nos importamos com um Comissariado de Justiça? Vamos chamá-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)

Não vamos descrever aqui as várias formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e os bolchevistas em geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados pelos partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.

Poucos anos depois, principalmente a partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de antigos líderes da Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a loucura do terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da causa. Alguns ainda louvando Stalin…

A Revolução devora seus próprios filhos.

Notas:

1. PIPES, Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio de Janeiro, BestBolso, 2008.

2. No Brasil há uma infinidade deles nos Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos com verbas do Estado, do dinheiro proveniente da corrupção e até pelo financiamento da oligarquia revolucionária.

3. Na verdade Lenin seguia tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético é o que ajuda a causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa perspectiva a mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.

Muitos que votaram ou votam no PT ou partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB, PCdoB, etc) o fazem sem saber o que é a “ética revolucionária marxista”. Lamentavelmente.

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