O NEOLIBERALISMO ECONÔMICO NÃO É CONDENÁVEL

Dr. Adolpho Lindenberg, Autor em Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Adolpho Lindenberg

O texto abaixo é parte do prefácio do livro de Friederich Hayek, “O caminho da servidão”, escrito por Adolpho Lindenberg. Este, depois de fazer certas ressalvas ao pensamento do economista  austríaco, que não escreve numa perspectiva religiosa e nem mesmo na “ordem moral do Direito Natural, nota que se pode vir a pensar que o  “liberalismo” “defendido por Hayek é a versão econômica da heresia liberal, insistentemente condenada pelos Sumos Pontífices“ desde o século XIX.  Ora, diz Lindenberg, isso “seria um erro grosseiro”.

Seguem suas considerações.

“O neoliberalismo, como observa Louis Baudin, um dos representantes máximos dessa escola, rejeita unanimemente o laissez-faire, laissez-passer do século XIX: é um conjunto de correntes de pensamento bastante diversas, cujo traço comum é o respeito pela pessoa humana e a utilização da iniciativa individual como base da vida econômica, uma vez que apenas o mecanismo dos preços, funcionando num mercado livre, permite um aproveitamento ótimo dos recursos naturais e dos meios de produção (cf. Baudin, Louis. L’Aube d’um Nouveau Libéralisme. Paris, Génin,1953. P. 146 e150). Isso não exclui, mas até supõe a ação do Estado: tanto para proteger o regime de livre concorrência, quanto para administrar a justiça, e para realizar, subsidiariamente, tudo aquilo que a iniciativa particular não possa fazer. É portanto muito ampla a missão do Estado numa economia neoliberal. Só não é permitido a este, em matéria econômica, desvirtuar o regime de livre concorrência, substituir-se aos particulares em nome de uma deificação dos poderes públicos, intervir no mercado a fim de impor um plano arbitrário concebido aprioristicamente por pretensos “engenheiros” do bem estar social. É isso o que expõe Hayek tantas vezes nesta obra, por exemplo,às p. 77-78 e 115-1l6.

Assim sendo, só uma ignorância total do neoliberalismo – ignorância hoje dificilmente concebível num espírito lúcido e de boa-fé – poderia ver algo da heresia liberal naquilo que constitui propriamente o pensamento econômico de Hayek. Se em algumas considerações colaterais e de ordem não econômica, dele discordarmos, deveremos ter presente que isso em nada há de afetar a linha-mestra da obra. É útil, aliás, sublinhar aqui que o neoliberalismo não é, de modo algum, uma doutrina monolítica, hirta, inflexível. Mas seus partidários fazem questão de salientar sempre que, versando sobe uma realidade empírica sumamente complexa e mutável, o neoliberalismo pode e deve admitir em seu seio as interpretações mais variadas, as sugestões mais imaginosamente diversas, desde que se respeite escrupulosamente o princípio fundamental da economia de mercado. E nessa riqueza e liberdade de perspectivas, bem entendida, não há latitudinarismo doutrinário, nem relativismo metafísico, mas há o bom senso que ensina ser impossível ao homem dogmatizar sobre matéria variável, livre, sujeita à riqueza das manifestações vitais (2).

É sob essa luz que deve ser considerada a grande variedade de pontos de vista dos autores da pujante escola neoliberal. Ludwig von Mises na Áustria. Walter Lippman, Milton Friedman e a Foundation for Economic Education nos Estados Unidos. W. Euckem na Alemanha; Wilhem Roepke na Suiça. Louis Baudin, Jacques Rueff e Louis Rougier na França; L. Robbins e o Institute for Economic Affairs na Inglaterra; e tantos outros, como o eminente autor deste livro. Esse movimento valoroso de pensadores anti-socialistas constitui sem dúvida o ponto mais importante da história das ideias econômicas nos últimos séculos”.

Notas:

Recentemente escrevemos alguns artigos sobre o liberalismo no blog olivereduc (1). Aqui aprofundamos o debate.

  1. www.olivereduc.blogspot.com

      2,  Os destaques em itálico e em negrito são do Olivereduc.com

Fonte: HAYEK, Friederich August von, 1889-1992. O caminho da servidão, tradução de Leonel Vallandro: prefácio de Adolpho Lindenberg. 2ª ed. São Paulo, Globo, 1977.

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