CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO

Guilherme de Almeida

Você sabe de onde eu venho?

Venho do morro, do engenho,

das selvas, dos cafezais,

da choupana onde um é pouco,

dois é bom, três é demais.

Venho das praias sedosas,

das montanhas alterosas,

do pampa, do seringal,

das margens crespas dos rios,

dos verdes mares bravios,

de minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,

não permita Deus que eu morra

sem que eu volte para lá

sem que leve por divisa

esse “V” que simboliza

a vitória que virá:

Nossa Vitória final,

que é a mira do meu fuzil,

a ração do meu bornal,

a água do meu cantil,

as asas do meu ideal,

a glória do meu Brasil!

Eu venho da minha terra,

da casa branca da serra

e do luar do sertão;

venho da minha Maria

cujo nome principia

na palma da minha mão.

Braços mornos de Moema,

lábios de mel de Iracema

estendidos para mim!

Ó minha terra querida

da Senhora Aparecida

e do Senhor do Bonfim!

Você sabe de onde eu venho?

É de uma pátria que eu tenho

no bojo do meu violão;

que de viver em meu peito

foi até tomando um jeito

de um enorme coração.

Deixei lá atrás meu terreiro

meu limão meu limoeiro,

meu pé de jacarandá,

minha casa pequenina

lá no alto da colina

onde canta o sabiá.

Venho de além desse monte

que ainda azula no horizonte,

onde o nosso amor nasceu;

do rancho que tinha ao lado

um coqueiro que, coitado,

de saudade já morreu.

Venho do verde mais belo,

do mais dourado amarelo,

do azul mais cheio de luz,

cheio de estrelas prateadas

que se ajoelham, deslumbradas,

Guilherme de Almeida(1890-1969)

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