É O GLOBALISMO, ESTÚPIDO! COMO A JUSTIÇA SE TORNOU AGENTE DA ELITE GLOBAL

Roberto Motta

É difícil encontrarmos acontecimentos políticos recentes num panorama que faça sentido. Uma das características do nosso tempo é justamente a incoerência. Observando o que acontece não é difícil concluir que vários dos protagonistas estão apenas obedecendo a impulsos e interesses momentâneos, sem qualquer pensamento estruturado que os guie. Mas não devemos ser ingênuos; nossa capacidade de distinguir uma intenção organizada e uma estrutura por trás das ações dos poderosos não significa que elas não existam. Há quem defenda justamente o contrário e diga que, por trás das contradições e da insensatez, existe um plano.

Conspiremos.

Uma febre de insegurança jurídica assola o país. Muitos a equiparam a um processo de destruição do próprio Direito – uma tragédia que levaria décadas para ser desfeita. Uma das análises mais comuns diz que isso tornará o Brasil um pária internacional, já que insegurança jurídica é um veneno para o desenvolvimento econômico. Segundo essa visão, as corporações internacionais desistirão de fazer negócios por aqui, já que se tornou impossível determinar o que é permitido e o que é proibido, o que ainda está valendo e o que já expirou, quanto se deve pagar hoje e quanto deveria ter sido pago há dez anos. Não há dúvida de que essa é uma análise válida, mas é preciso considerar outra possibilidade.

É possível que toda a confusão tenha sido produzida por encomenda. Os defensores dessa ideia dizem que tudo o que estamos observando agora é fruto de esforços realizados justamente para alinhar o panorama institucional brasileiro com as necessidades e desejos de interesses transnacionais. Esses interesses são expressos no que se chama de globalismo, um movimento para estabelecer uma governança supranacional, exercida por agências e “órgãos multilaterais”, que se sobrepõe à soberania dos Estados-nação.

“Embora, na superfície, a onda neoconstitucionalista se apresente como defensora de todas as minorias, na verdade ela é defensora de apenas uma delas: a elite global”

O “globalismo” é um fenômeno observável. É enorme a quantidade de decisões, determinações, sentenças e agendas de organismos como a ONU, a OMS ou a Corte Interamericana de Direitos Humanos que são aceitas no ordenamento jurídico de países como o Brasil sem qualquer discussão e com força de lei. Essas ideias do globalismo são também incorporadas profundamente no senso comum e no zeitgeist – o “espírito dos tempos”. Basta ver o status quase mítico que questões como “mudanças climáticas” atingiram na cultura popular, nos currículos escolares e no ambiente corporativo.

A justificativa para a imposição da agenda transnacional do globalismo é o argumento de que o povo e os seus políticos eleitos através do voto popular – a democracia representativa, enfim – não são confiáveis; não se pode delegar a eles decisões sobre assuntos importantes, como meio ambiente, saúde, direito penal ou liberdade de expressão. Esses assuntos devem ser reservados para especialistas iluminados, autoridades não eleitas que encontrarão as melhores soluções possíveis para cada problema – soluções que devem ser adotadas em todo o mundo, sem qualquer questionamento. Para o povo e os políticos eleitos restarão as tarefas menores, como realizar pequenas obras ou a escolha do nome das ruas, se isso não contrariar esta “nova história”.

Observadores atentos apontam que essa agenda transnacional atende a um interesse essencial das grandes corporações: previsibilidade. Debaixo da aparente insegurança jurídica gerada pelo abandono do princípio da legalidade – aquele que diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa em virtude de lei – se encontra outra realidade. A lei passa a ser feita sob medida, decisão a decisão, cliente a cliente, pelo próprio juiz. Se na cabeça do magistrado-legislador estiver, por exemplo, a agenda 2030 da ONU, não resta nenhuma dúvida de que todas as decisões estarão alinhadas com essa visão de mundo. Basta examinar decisões tomadas na época da pandemia para entender isso.

É importante lembrar disso: qualquer um dos critérios exóticos implantados a ferro e fogo, através de decisões judiciais, que agora regulam a entrada em universidades, o acesso a contratos públicos, a validade jurídica de grandes negócios e o direito de trabalhar e de produzir – qualquer um desses critérios pode ser instantaneamente alterado, reduzido ou até completamente abandonado apenas com a autorização de um único magistrado. Depende do cliente.

Esse é o aspecto mais intrigante dessa história: embora, na superfície, a onda neoconstitucionalista se apresente como defensora de todas as minorias, na verdade ela é defensora de apenas uma delas: a elite global, encastelada nos altos escalões burocráticos, na academia, nas grandes corporações e nas agências internacionais, que ambiciona o controle do pensamento e da ação de bilhões de pequenos tiranos soberanos.

Roberto Motta é pesquisador da área de segurança pública, ex-consultor de tecnologia do Banco Mundial e ex-Secretário de Estado do Conselho de Segurança do Rio de Janeiro. É autor de 4 livros: “Ou Ficar A Pátria Livre”,  “Jogando Para Ganhar: Teoria E Prática da Guerra Política”, “Os Inocentes do Leblon” e “A Construção da Maldade: Como Ocorreu a Destruição da Segurança Pública Brasileira”. É graduado em engenharia pela PUC-RJ, tem mestrado em gestão pela Fundação Getúlio Vargas. Foi um dos fundadores do Partido Novo e é comentarista na Jovem Pan News. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/roberto-motta/globalismo-justica-agente-elite-global-agenda-onu/   20 de julho de 2025.

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Notas:

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