CARDEAL PIZZABALLA: A SITUAÇÃO NA FAIXA DE GAZA É MORALMENTE INACEITÁVEL E INJUSTIFICÁVEL

  • Estávamos com famílias que perderam a conta dos dias de exílio porque não veem horizonte para o retorno. As crianças conversavam e brincavam sem pestanejar, acostumadas aos sons dos bombardeios.
  • A ajuda humanitária não é apenas necessária; é uma questão de vida ou morte. Negá-la não é um atraso, é uma sentença.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 22-07-2025.

Cardeal Pierbattista Pizzaballa

O Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, denunciou nesta terça-feira que a situação na Faixa de Gaza “é moralmente inaceitável e injustificável”, após realizar uma visita à cidade de Gaza para se encontrar com fiéis na única igreja católica do enclave após um ataque perpetrado semana passada pelo Exército israelense contra o edifício, que deixou pelo menos três mortos.

Patriarca Teófilo III

“Nós já vimos isso. Homens expostos ao sol por horas na esperança de uma refeição simples. É uma humilhação difícil de suportar quando você vê com os próprios olhos. É moralmente inaceitável e injustificável”, disse Pizzaballa durante uma coletiva de imprensa, na qual afirmou que tanto ele quanto o Patriarca Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, “retornam de Gaza com o coração partido”.

“Entramos num lugar de devastação, mas também de humanidade maravilhosa. Caminhamos pela poeira das ruínas, prédios desabados e tendas por toda parte”, observou, antes de enfatizar que essas tendas “se tornaram lares para aqueles que perderam tudo”. “Estávamos com famílias que perderam a conta dos dias de exílio porque não veem horizonte de retorno. As crianças conversavam e brincavam sem pestanejar, acostumadas aos sons dos bombardeios”, relatou.

A dignidade daqueles que se recusam a ser extintos

Assim, ele enfatizou que, durante a visita, ambos testemunharam “algo mais profundo que a destruição: a dignidade do espírito humano que se recusa a se extinguir”. “Cristo não está ausente em Gaza. Ele está lá, crucificado entre os feridos, sepultado sob os escombros, e ainda assim presente em cada ato de piedade, em cada vela na escuridão, em cada mão estendida aos que sofrem”, argumentou Pizzaballa.

“É importante enfatizar e repetir que nossa missão não é para um grupo específico, mas para todos”, enfatizou. “A ajuda humanitária não é apenas necessária; é uma questão de vida ou morte. Negá-la não é um atraso, mas uma sentença. Cada hora sem comida, água, remédios e abrigo causa danos profundos”, lamentou, referindo-se às severas restrições de Israel à entrada de ajuda humanitária em Gaza.

“Acabe com essa bobagem”

Nesse sentido, ele expressou seu apoio às agências humanitárias que “arriscam tudo para trazer vida a esse mar de devastação humana” e disse que “é hora de pôr fim a essa insensatez, acabar com a guerra e colocar o bem comum do povo como nossa principal prioridade”, de acordo com a transcrição de suas observações fornecida pelo Patriarcado Latino de Jerusalém.

“Rezamos e pedimos pela libertação de todos aqueles privados de liberdade, o retorno dos desaparecidos e reféns, e a cura das famílias que sofrem em todos os lugares”, disse Pizzaballa, insistindo que “quando a guerra terminar, haverá um longo caminho pela frente para iniciar o processo de cura e reconciliação entre os povos palestino e israelense”.

Desta forma, ele enfatizou que o conflito “causou muitas feridas na vida de muitas pessoas” e, portanto, defendeu “uma reconciliação autêntica, dolorosa e corajosa”. “Não para esquecer, mas para perdoar. Não para apagar as feridas, mas para transformá-las em sabedoria. Somente este caminho pode tornar a paz possível, não apenas no plano político, mas também no plano humano”, concluiu.

De sua parte, Teófilo III disse que Gaza “é uma terra marcada por aflição prolongada e perfurada pelos gritos de seu povo”. “Entramos como servos do corpo sofredor de Cristo, caminhando entre os feridos, os aflitos, os deslocados e os fiéis cuja dignidade permanece intacta apesar de sua agonia”, disse ele.

“Lá, encontramos pessoas esmagadas pelo peso da guerra, que ainda carregavam consigo a imagem de Deus. Entre as paredes destruídas da Igreja da Sagrada Família e os corações feridos de seus fiéis, testemunhamos tanto uma dor profunda quanto uma esperança inabalável”, enfatizou.

“O silêncio diante do sofrimento é uma traição à consciência”

“A missão da Igreja em tempos de devastação se baseia no ministério da presença, no acompanhamento dos que choram, na defesa da sacralidade da vida e no testemunho da luz que nenhuma escuridão pode extinguir”, disse ele, antes de transmitir à comunidade internacional que “o silêncio diante do sofrimento é uma traição à consciência”.

A ofensiva contra Gaza, lançada em resposta aos ataques de 7 de outubro de 2023 — que deixaram cerca de 1.200 mortos e quase 250 sequestrados, segundo o governo israelense — deixou até agora mais de 59 mil palestinos mortos, segundo informações das autoridades do enclave palestino, controlado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), embora se tema que o número seja maior.

Igreja da Sagrada Família e sacerdote ferido no ataque

(…)

Fonte:  https://www.ihu.unisinos.br/654887-pizzaballa-a-situacao-na-faixa-de-gaza-e-moralmente-inaceitavel-e-injustificavel

23 de julho de 2025.

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