
A filosofia católica, seguindo os gregos, ensina-nos que devemos praticar as 4 virtudes cardeais para termos uma vida equilibrada e feliz. São elas; prudência, justiça, fortaleza e temperança.

São Tomás de Aquino, ao tratar dessas virtudes, descreve as 4 virtudes cardeais como “o justo meio” entre dois vícios opostos; um por falta e outro por excesso.
Vejamos o significado de cada uma e os vícios que lhe são opostos. Em outro artigo vamos explicar mais pormenorizadamente cada uma delas.
1. Prudência

A prudência é a capacidade de discernir a ação correta em qualquer situação. Não tem nada a ver com timidez, com receio de agir. Se às vezes a inteligência nos mostra que devemos recuar, em outras mostra-nos que o melhor a fazer é atacar, enfrentar o problema.
- Vício por falta: é a imprudência. Ocorre quando agimos por precipitação, sem considerar as consequências. Deixamos de ter uma visão correta da realidade e, devido a isso, não se consegue fazer o juízo e a ação adequadas.
- Vício por excesso: A falsa prudência ou astúcia, que usa a inteligência para fins egoístas ou prejudiciais. Pode ser a astúcia do malandro, do enganador, do hacker, bem como a do advogado ou juiz sofista, falacioso.
2. Justiça
A justiça é a vontade constante de dar a cada um o que lhe é devido.

Nada tem a ver com tratar todo mundo de forma igual. O justo é prudente e sabe que um filho deve ser tratado com mais severidade e outro com mais brandura. Ele leva em conta as qualidades e defeitos de cada um. Sabe o que cada um merece.
- Vício por falta: Injustiça, que nega o que é devido ao próximo.
Alguns consideram que nada deve ser dado a quem cumpre sua obrigação. É um engano. Cumprir a obrigação tem seus sacrifícios e contribui para o bem de todos. Não reconhecer as qualidades dos outros, por exemplo, pais ou empregados, quando praticam bem suas funções, vai contra a virtude da Justiça.
- Vício por excesso: podemos chamar de um rigorismo na aplicação da lei ou ainda um excesso de rigor na aplicação da justiça. Neste sentido é bom lembrar a expressão do direito romano: “Summum jus, summa injuria” (o máximo do direito, o máximo da injustiça). Pode parecer estranho, mas exprime uma grande verdade. Significa que a aplicação excessivamente rigorosa da lei, ao pé da letra, pode gerar uma grande injustiça. Isso ocorre quando se quer aplicar a lei sem considerar o contexto, a equidade ou o bom senso. Assim sendo o resultado pode ser oposto ao desejado, transformando a justiça em uma crueldade. Lembramos aqui um exemplo da lei penal francesa no século XIX. A família de S. Bernadette Soubirous era muito pobre. Um dia, seu pai procurando lenha para o fogão da casa encontrou um pedaço de madeira próximo a uma cerca. Foi acusado de roubo e passou algum tempo preso. Óbvio que a justiça foi aplicada erradamente.
3. Fortaleza
A fortaleza é a firmeza e a constância para enfrentar as dificuldades e perseguir o bem. Dificuldades podem ser um grave risco de vida, uma doença, e até o meio ambiente no qual vivemos.

- Vício por falta: Covardia ou pusilanimidade, que é a incapacidade de enfrentar o medo ou as dificuldades. O medo pode ser de desgostar o filho ou os amigos. Podemos ter receio de corrigir os filhos ou subordinados (até mesmo superiores em condições determinadas) ou dificuldade de aceitar que é preciso abandonar um emprego onde corremos o risco de pecar pois nele há violações sistemáticas da justiça e da honestidade.
- Vício por excesso: Temeridade ou audácia imprudente, que é a imprudência em assumir riscos desnecessários. Acontece, em primeiro lugar, também por falta de prudência, por não levar em conta a realidade. Pode ser causada também por orgulho. A pessoa sobrevaloriza suas qualidades e subestima os perigos.
4. Temperança
A temperança é a moderação e o autocontrole nos prazeres e apetites, buscando o equilíbrio.

- Vício por falta: Insensibilidade, que é a indiferença ou incapacidade de sentir prazer de forma saudável. Seria algo semelhante à anorexia. Só que esta é uma doença.
- Como dissemos antes, se a virtude é a disposição habitual da alma em praticar o bem, podemos dizer que se a alma se afasta desse equilíbrio pode cair no desleixo, com alimentação e com outras coisas transformando-se em vício. Assim, do ponto de vista moral, quem não se importa com o que come, ou come de qualquer jeito, não cuida da própria saúde, denota falta de respeito pelo próprio corpo e pela ordem natural das coisas. Já do ponto de vista psicológico ou existencial tal desleixo pode expressar uma forma de apatia, indiferença à vida, ou abandono de si.
- Vício por excesso: Intemperança ou gula, que é o desregramento e o excesso no consumo de prazeres. Todos nós conhecemos mil exemplos de intemperança. Pode ser alimentar, excesso de internet ou jogos, ou até de trabalho: o workaholic. Há quem não perceba que o excesso de trabalho também pode prejudicar gravemente a vida familiar.
Terminamos por aqui. Há muito para fazer para praticar as quatro virtudes cardeais, não é mesmo?
Interessante que também podemos aplicar tais virtudes no mundo político. É o que você pode ver no próximo artigo aqui no olivereduc, intitulado “As virtudes cardeais e a arte de governar” que também publicamos hoje. É bem interessante ver como o autor, André Latham, aplicou essas virtudes à arte de governar.