
Que texto bonito e cheio de significado. Não há nada que pese mais para uma criança em formação do que o exemplo de seus pais em primeiro lugar, depois do restante dos adultos que fazem parte essencial dessa formação. Foi observando a vida de meu pai que percebi o valor do trabalho e da responsabilidade dentro de uma casa. Foi observando minha mãe que aprendi o carinho que devia ter com meus avós, a importância de meus irmãos em minha vida e o valor de uma família. Quando cresci e decidi que queria me casar, não sabia bem o que queria, mas sabia muito bem o que não queria. Não queria ninguém que fosse menos que meu pai. Meu pai era minha régua de honestidade e homem bom. Minha mãe era meu exemplo de amor e dedicação. Assim, eu e Valter construímos nossa família: fé, honestidade, amor e dedicação. Hoje vemos nossos netos sendo criados e educados no mesmo caminho. As palavras ensinam, mas o exemplo arrasta. Aproveitem muito essa preciosidade que é o trabalho de Ari Esteves e Marian Rojas.
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Muitos pais trabalham dia e noite para dar aos filhos a melhor educação, brinquedos caros, quarto bonito, boa escola, mas sem perceber podem estar negando o que realmente deixará marca e formará o caráter dos filhos: o exemplo diário! Marian Rojas (1) ensina como o exemplo dos pais influencia enormemente os filhos, e afirma que uma criança poderá esquecer os presentes de aniversários que ganhou dos pais, mas nunca como viam os pais agirem no dia a dia, como a olharam, trataram e falaram com ela. A coerência entre a teoria e a conduta é a melhor prova da convicção e da validade daquilo que se ensina aos filhos; é condição imprescindível para a eficácia da educação comportamental.

O exemplo paterno e materno molda o cérebro da criança e deixa rastro mais profundo do que as palavras. Educar, mais do que dar instruções, é ensinar com a vida. O que os filhos percebem no modo de ser dos pais os marcará para sempre. Rojas testemunhou algo que jamais esqueceu: –“Doutora, não me lembro das muitas frases que minha mãe repetia para mim, mas lembro como todas as noites, apesar de exausta, ela vinha ao meu quarto, me abraçava e me dizia que tudo ficaria bem”. Essa cena diária, aparentemente simples, ficou gravada na memória desse homem porque foi uma silenciosa mensagem que dizia: –”Você não está sozinho. Estou aqui para você, que é muito importante para mim”.
O modo de estar presente educa sem explicações, pois o cérebro humano aprende observando e por imitação por meio dos neurônios-espelho, descobertos há algumas décadas. Desde o berço a criança registra na estrutura cerebral como seus pais se movem, agem e a tratam. O pai que vê o filho brincando distraidamente e discute de maus modos com alguém ao telefone, não percebe que a criança vê e reproduzirá esse comportamento em seus desentendimentos: o respeito deve transparecer no modo de agir com os demais. Se a mãe é educada com a atendente do supermercado e com o porteiro do prédio, a criança replicará esse modelo de conduta. A mentira dita a um parente ou amigo faz a criança desaprender o significado da honra e da verdade.

Educar exige calma, falar com paciência, ouvir sem interromper. A impaciência é atalho para reações automáticas. Saber lidar com a pressa e o estresse é fundamental na educação pelo exemplo. Trata-se de criar pequenas pausas conscientes que permitam agir em vez de reagir. Algo simples como o respirar fundo antes de responder, fazer uma breve pausa antes de dar uma indicação, um gesto que indique desacelerar são pequenas interrupções que rompem o ciclo da pressa e do estresse, e evitam palavras e gestos indelicados. Os filhos se lembrarão mais tarde da calma e respeito com que os pais os tratavam, mesmo em situações difíceis ou sob pressão.

Não se trata de ser perfeito, mas ter a consciência de que marcas profundas ficam nos filhos pelo que se faz ou não se faz. Ou seja, os pais não educam só com o que dizem, mas com o que fazem mesmo sem perceber. O caráter dos filhos não se molda por frases, mas pelo modo como os pais vivem. Comportamentos diários são absorvidos mesmo que os pais nada digam: gestos, hábitos e reações silenciosas transmitem mensagens sem a necessidade de palavras, mesmo que passem despercebidas aos olhos dos pais, mas não aos da criança. A incoerência entre o dizer e o fazer é prejudicial porque ensina que o dito não é tão importante quanto o feito. A confiança e a credibilidade é corroída quando não há coerência nas ações dos pais: se pedem respeito aos demais, mas criticam um vizinho ou parente, a criança pensará que o respeito é relativo e aplicado conforme o interesse. Já a coerência é a âncora emocional que oferece segurança e estabilidade ao aprendizado da criança.
Viver como se o celular fosse o protagonista é um erro silencioso comum. O celular constantemente grudado nas mãos dos pais deseduca porque diz aos filhos que merecem a atenção dividida com esse aparelho; que as telas têm precedência sobre as pessoas; que as conversas devem ser interrompidas para responder a uma mensagem; que os momentos juntos na vida familiar ou no trabalho devem ceder lugar às mensagens e vídeos. O adulto fisicamente presente e emocionalmente ausente prejudica a comunicação e o desenvolvimento emocional da criança, que necessita de olhares longos, silêncios compartilhados, momentos de conexão profunda. Substituir tais momentos por telas faz a criança entender que a presença dela não é importante. Mudar esse padrão requer consciência e coragem. Não se trata de desistir da tecnologia, mas de saber quando e como usá-la. Tempo de qualidade sem distrações fortalece o vínculo e ensina à criança que as pessoas estão acima das telas digitais. Se os pais erram nisso, devem reconhecer e pedir perdão, pois a humildade vivida diante da criança é lição valiosa.
Outro mau exemplo silencioso e comum se dá quando os pais negligenciam o próprio bem-estar físico e emocional. As crianças observam se eles se tratam com carinho e respeito, se dormem o suficiente, se alimentam-se saudavelmente, se fazem exercícios, se dedicam tempo ao descanso. Cuidar-se não é luxo, mas dever: quem não se cuida reduz sua capacidade física e mental para enfrentar as responsabilidades. Pais exaustos, irritáveis e sem energias têm menos paciência e tolerância emocional, o que impacta diretamente o ambiente familiar. O autocuidado ensina aos filhos que para amar e servir aos demais é preciso estar bem, e isso não é egoísmo, mas base para uma vida equilibrada.

O clima emocional mantido no lar se instala na mente da criança. Viver em ambiente onde predominam reclamações e pessimismos é como respirar ar poluído. Frases diárias de que tudo anda errado torna a criança medrosa. Pais queixosos fazem a criança viver com medo; pais otimistas e resilientes fortalecem o filho. Não se trata de negar os problemas, mas de saber como lidar com eles. O modo de olhar para a vida será o modo de a enfrentar. O pessimismo crônico é um filtro mental que limita a capacidade de sonhar e de buscar soluções. Mostrar esperança é o caminho que ensina enfrentar de forma positiva os problemas: –”Vamos ver o que podemos fazer” ou –“Encontraremos uma solução”, ensinam aos filhos que otimismo não nega a realidade, mas a enfrenta-a com dinamismo e fortaleza.
O primeiro passo para educar pelo exemplo é ser honesto e não justificar as ações erradas ao dizer para si que não afetarão a criança: projete um mau hábito seu na vida do filho para quando ele alcançar 20 anos! Não subestime as más condutas. Por isso, pergunte ao outro cônjuge se suas ações contradizem o que você diz. Identificar as incoerências é como acender uma luz em sala escura. Pedir perdão não desabona os pais, mas os torna mais humanos. É equivocado pensar que reconhecer um erro diante do filho suprime a autoridade. Ao contrário, faz ganhar o respeito que nasce da verdade. Ao pedir perdão, os pais ensinam que cometer erros e corrigi-los faz parte da vida: – “Eu errei ao dizer aquilo a você”, é atitude poderosa porque assume a responsabilidade sem desculpas, e revela que os relacionamentos podem ser curados. Este é um legado emocional incalculável que fará o filho admitir e corrigir as próprias falhas.

Os valores ou modelos de conduta não devem ser impostos goela abaixo, mas vividos e incorporados por meio de rotinas familiares. As rotinas são fios invisíveis que tecem a segurança emocional da criança, dando a ela estrutura e previsibilidade; são rituais que marcam e reforçam os valores que se quer transmitir. Por exemplo, as refeições em família sem celulares ou telas digitais demonstram que a conexão humana é mais importante; que ler juntos na sala revela o valor que se dá à cultura, arte e literatura para a vida… As rotinas não precisam ser longas ou complicadas, mas consistentes. Um hábito pequeno que se repete, com o tempo se tornará parte da identidade da criança. O segredo está na participação dos pais nas rotinas, e não como algo que os filhos fazem sob a supervisão dos pais.
Educar com o exemplo é – depois da transmissão da fé e do amor a Deus –, o maior presente que os pais podem dar aos filhos. Mais do que grandes discursos, o exemplo ensina silenciosamente como resolver os problemas e encarar a vida por meio dos gestos e ações práticas. Os filhos não precisam de pais perfeitos, mas de pais que demonstrem com a vida que se pode cair e levantar novamente; que sentir medo não impede continuar a lutar; que se pode manter o amor quando se está cansado… Os pais devem se perguntar sobre como gostariam que o filho se lembrasse deles daqui a 20 anos. Essa resposta será a bússola que orientará para deixar de lado o que não é necessário e manter firme o leme na rota do bom porto. O exemplo que os pais oferecem hoje é privilégio e legado único que sustentará os filhos por toda a vida. Não há presente maior do que deixar aos filhos um modelo de amor, respeito, resiliência e esperança.
Texto traduzido e resumido por Ari Esteves, com base no vídeo “¿Eres el ejemplo que tu hijo necessita?, da psiquiatra espanhola Marian Rojas Estapé, postado em https://www.youtube.com/watch?v=ZRORCRC5z2U. Imagem ChatGpt https://www.ariesteves.com.br/2025/08/voce-da-bom-exemplo-ao-seu-filho/