A FAMÍLIA E A BUSCA DE SENTIDOS

 

Simone Fuzaro

Atualmente, o vazio existencial é considerado uma neurose coletiva. Há uma sensação por grande parte das pessoas de que a vida carece de um sentido. Essa percepção, na maioria das vezes, é fruto da sensação de desamparo, de angústia, de tédio, que o homem pode ter diante da realidade de sua fragilidade, finitude e limitações. Tal vazio leva as pessoas a estados depressivos, ansiosos, desestruturantes. Há uma busca insana por preencher esse “vazio” com prazeres momentâneos, com sucedâneos fugazes, que acabam por fazer crescer a sensação de desamparo, pois, ao final, não promovem mudanças significativas tampouco proporcionam um crescimento interior. Vivemos voltados para fora –  centrados em vídeos, músicas, ruídos, afazeres que nos afastam sistematicamente de nós mesmos e de nossa intimidade.

Essa realidade se impõe hoje porque fomos deixando de lado todas as convenções, tradições, valores que nos orientariam sobre o que se deve fazer, e fomos ficando reféns de satisfazer desejos, de viver prazeres. Vive-se na ilusão de que a felicidade está nas coisas e, ao constatar que a cada coisa conquistada não se encontra a felicidade perene, mas, sim, alguns momentos de prazer passageiros, amplia-se o vazio.

Diante dessas considerações, vai se configurando a importância do papel da família na busca de sentido para a vida. Todo o ser humano, consciente ou inconscientemente, busca a felicidade e o bem. É importante, porém, que possamos identificar o que é a felicidade, onde ela se encontra e qual é o bem.

Dentro do ambiente familiar, no aconchego do lar, está dada a grande oportunidade de construirmos com os filhos um sentido consistente para a vida, de vivenciarmos a felicidade que está para além da experiência de ter algo ou de realizar algum desejo. A felicidade está  num convívio divertido e construtivo, na capacidade de doar-se pelo bem do outro, na oportunidade de ajudar os filhos a crescerem em uma determinada virtude, conquistarem uma postura mais humana na relação com os outros, em perceber que o fruto de nosso trabalho é maior do que o retorno financeiro que nos oferece…

Como podemos promover essa experiência no seio da família se não conseguimos suportar as tendências infantis de termos o que desejamos e se não procurarmos mostrar a alegria escondida nos bens que não se contam? Se não conseguimos ver as dificuldades que aparecem como oportunidades de superação e de crescimento para todos? Se não resgatamos valores, tradições, e condutas próprias do humano –  daquele que é capaz de transformar a tragédia e o sofrimento em triunfo?  (Viktor Frankl).

Os valores que queremos transmitir precisam ser vividos cotidianamente. Falar sobre eles é muito pouco e muito pobre. Vivê-los arrasta. Não ensinarei meu filho a valorizar algo para além do material se estiver colocando o objetivo da minha vida em conquistas materiais, viagens fantásticas, cargos importantes e carros espetaculares. Esses bens têm seu lugar e sua importância, mas não podem ser o sentido de uma existência, senão o vazio se implantará. Ao contrário, quando aprendemos a buscar um sentido consistente e perene para nossa existência, os percalços ganharão outro peso e um novo sentido, afinal, segundo Nietzsche: “Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como”.

 Vale a pena nos dedicarmos a educar pessoas fortes, otimistas, que sejam criativas diante dos obstáculos.

Fonte: O São Paulo, 25 de abril de 2018.

http://www.osaopaulo.org.br/colunas/a-familia-e-a-busca-de-sentidos

 

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