O PERIGO MORA NAS ESTATÍSTICAS

  

 

Roberto Zanin

 

Ok, confesso. Tenho um pé atrás com estatísticas. (1)

Quando entrei para a faculdade de comunicação social, pensei que estaria livre para sempre do bicho-papão que a Matemática sempre foi para mim.

No primeiro dia de aula, o professor se apresenta: “Bem-vindos, futuros jornalistas e publicitários. Meu nome é Leonardo e serei o professor de Estatística”.

Quase saí correndo. Ele explicou que no primeiro ano apreenderíamos métodos de pesquisa de mercado e que a estatística faz parte desse processo, margem de erro, etc.

Passados quase vinte anos, a Estatística volta a me incomodar.

Como ela tem “costas largas”, serve de justificativa para tudo, principalmente quando está em jogo o lucro econômico e o modo de pensar politicamente correto.

O conto da Carochinha começa assim: “Estatísticas apontam que X por cento das pessoas….”; continua assim: “especialistas apontam que a solução para o problema seria a liberação (ou obrigação, ou a adoção de medidas) diante desse quadro”, e termina com a aceitação de parte da opinião pública (que novas estatísticas “demonstrarão” que é a maioria das pessoas).

O poderoso, permanente e riquíssimo lobby para a legalização do aborto é um exemplo. ONGs e pesquisadores não sei das quantas, patrocinadas pelas mesmas Fundações de sempre, via de regra, brandem estatísticas sobre o “aborto inseguro”. Caso de “saúde pública”. Para inflar números, utilizaram até casos de abortos não provocados.

Isso sem falar nas pesquisas com perguntas que induzem as entrevistadas ao engano, para dar a idéia de que as mulheres aceitam, em sua maioria, a legalização desse crime.

O dono mordeu o cachorro

Outro fenômeno que induz ao erro de percepção também me remete ao primeiro dia de aula na faculdade. O professor de Jornalismo se apresentou e disse que aquilo que é comum não é notícia: “O cachorro morder o dono não é notícia. Já o contrário, é”.

Nesse sentido a superexposição de pessoas com comportamentos que diferem da maioria, dá a impressão de que exceções viraram regra.

Bom exemplo é a matéria de recente capa da Veja, que faz apologia e glamouriza mulheres que optaram por não ter filhos.

A reportagem cita dados (de novo, as estatísticas) do IBGE de que o número de mulheres que chegaram aos 50 anos sem filhos aumentou 20%, e trata isso como algo espantoso.

O dado  tem certa relevância, mas é bem menor do que o fenômeno bombástico propalado na matéria.

A própria reportagem admite que mulher que não quer a maternidade sempre será minoria, mas o texto faz de tudo para mostrar as vantagens de ser do bloco do “eu em primeiro lugar”.

Todas as personagens são sorridentes e “de bem com a vida”.

Não há questionamentos sobre como será a velhice ou a solidão.

Uma capa de revista com mães realizadas familiar e profissionalmente seria bem-vinda. Mas aí o dono não teria mordido o cachorro.

E não há pesquisa e estatísticas encomendadas sobre o assunto.

Nota

1. Especialmente as estatísticas econômicas manipuladas pelos políticos. Basta ver a eleição presidencial de 2014. (nota do site).

Fonte:  http://robertozanin.com/2013/06/05/o-perigo-mora-nas-estatisticas/

 

 

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